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David Chan – Quando a paixão pelo cinema e as artes marciais se tornam numa profissão e num modo de vida

Kung Fu, ginástica acrobática, kickboxing, jiu-jitsu brasileiro, krav maga ou até xadrez, todos estes desportos fazem parte do currículo de David Chan, um apaixonado pelos filmes de artes marciais que vive o sonho: faz disso a sua profissão.

Duplo de profissão e praticante de artes marciais desde os 10 anos de idade, David Chan conta-nos que a paixão pelas artes marciais apareceu primeiro, levando posteriormente à paixão pelo cinema. Tudo começou com um filme de 1985, o Ninja Warriors, e com as acrobacias fantásticas que nele se faziam. “Eu vi um filme, um filme de ninjas, e sabia que queria fazer aquilo que eles estavam a fazer nos écrans, não sabia era como, mas sabia que me queria mexer como eles se estavam a mexer. Ainda por cima os ninjas juntam artes marciais e acrobacias, portanto, para uma criança de seis anos aquilo foi altamente impressionável”.

Percurso

Uma cena de um filme de ninjas foi o suficiente para ligar o rastilho que o fez nunca mais deixar as artes marciais. Aos 10 anos inscreveu-se no kung fu, até que percebeu que lá “não conseguia atingir os objetivos que queria, eu queria fazer os fliques, os mortais”, passando assim para a ginástica acrobática, aos 12 anos, onde permaneceu durante quatro. Chegado aos 16 anos encontrou o full contact, o kickboxing - a modalidade onde esteve mais anos e onde conta que fez o primeiro cinturão negro, competiu e esteve na seleção nacional.

Mais tarde, o kung fu volta a fazer parte da sua vida, quando parte para os Estados Unidos da América. Mas, desta vez um kung fu mais contemporâneo, que estava bastante em voga “na altura estava muito na moda porque o Matrix tinha saído, e era a arte marcial que tinha sido usada como inspiração”.

“Ainda brinquei um bocado com a capoeira, durante um ano, e quando regressei a Portugal, em 2007, foi quando comece a praticar krav maga, e pratico desde então”, mais tarde, há cerca de três anos e meio, é a vez de o jiu-jitsu entrar na sua vida, fazendo parte da já enorme lista de artes marciais que pratica.

O desporto como elemento de equilíbrio

Seja a nível profissional, devido às exigências da profissão, seja a nível pessoal, o desporto é algo que está intrinsecamente ligado à vida de David.

Para ele é impossível “desassociar o meu treino da minha sanidade mental. Sinto que quando treino sou mais eficaz, mais afiado, mais alerta, sinto-me bem comigo próprio”. Acrescentando ainda que é algo “normal, porque quando treinamos há uma natural libertação de hormonas, então uma pessoa sente-se bem consigo. É o meu escape e é isto que retiro de positivo para mim”.
 

As vantagens de incorporar o exercício físico desde cedo

David sente que ter começado a fazer exercício desde tão novo lhe trouxe duas grandes vantagens: a disciplina e a capacidade de superar as adversidades.

“É natural que quem faça artes marciais tenha mais disciplina, isso ajuda-me quando estou em plateau ainda por cima trabalhamos num meio altamente disciplinado que muito se assemelha, se calhar, à estrutura militar, portanto a disciplina é uma das grandes vantagens”.

“Nas artes marciais estamos sempre a lidar com desafios a toda a hora, no cinema também”, por isso, como ele exemplifica de forma mais crua e realista “quem apanha porrada durante 20 anos, [sente que] depois estar em plateau, os desafios nunca vão estar ao mesmo nível, porque quando estás literalmente a tentar sobreviver dentro do ringue, acabas por ganhar estofo”.
 

As vantagens de um desporto mental

Não é só o exercício físico que traz vantagens, o exercício mental também tem imensos benefícios.

Para David, o xadrez, desporto que praticou durante quatro anos e no qual chegou a ser federado, trouxe-lhe algumas vantagens como a estratégia.

“Pessoalmente é a estratégia, é a questão de dominares o jogo a nível estratégico. Um princípio que uso muito na vida é a questão do sacrifício. Sacrificares uma peça no xadrez é altamente decisivo no jogo, portanto, quando estás a ceder um pião, uma torre, tens de o fazer em prole de uma boa posição estratégica, por isso comecei a ver o sacrifício como algo positivo quando é implicado. Independentemente de teres menos peças ou cavaleiros, quem tiver a melhor estratégia consegue dominar o jogo. Eu pessoalmente não consigo desassociar o xadrez da minha vida.”
 

Os desafios do desporto numa era, cada vez mais, digital

Vivemos numa era em que as tecnologias dominam, cada vez mais, o nosso quotidiano, e questionamos o duplo e atleta português sobre os desafios que o desporto enfrenta ao ter esta concorrência.

Para David a educação física é um dos pilares basilares para que o ser humano possa funcionar “está no nosso DNA, nós somos caçadores. O que sinto que acontece é que muitas modalidades não se adaptaram”.

Acrescentando que “hoje em dia vivemos numa era de gratificação instantânea, as pessoas querem resultados rápidos, eu compreendo isso e não digo que a geração esteja errada, acho é que as modalidades têm de se adaptar. Eu ainda sou do tempo em que passávamos muitos meses a fazer as mesmas coisas porque aquilo era ‘repetição, repetição’. Eu acho que esse método ainda funciona, mas não para as novas gerações. Hoje em dia, se não estimulas um novo praticante com novas ideias, estímulos, ele vai perder o interesse e se calhar vai trocar a modalidade. Infelizmente é a realidade que temos e temos de nos adaptar. Portanto eu acho que passa pelos instrutores e pelas modalidades perceberem quais são as necessidades destes jovens e darem mais estímulos, eu sei que é chato, porque não queremos dar demasiados brinquedos as crianças, é um equilíbrio delicado.”
 

Conselhos para quem se quer iniciar neste mundo das artes marciais

Para David, ter expetativas realistas é o principal conselho, assim como colocar o ego de lado.
“Tens de colocar o teu ego de lado e ter expetativas realistas, quando vais ao Youtube procurar seja o que for o Youtube vai te sugerir sempre o 1% daquela modalidade, isso é altamente desmotivante. Eu acho que numa fase inicial é fugir desses vídeos. É entrares com os pés no terreno e perceberes o que é que é a média, se tens dois braços, duas pernas, és saudável, já estas em vantagem.

É pores o ego de lado, associares-te a uma modalidade e pedires um treino a experiência e depois vês se te identificas com o instrutor, com a energia do clube. Às vezes pode nem ser a modalidade em si, pode ser só o clube, então eu digo sempre as pessoas para experimentar duas vezes para veres te identificas.”